Na tarde de 23 de novembro de 2025, a Arena Pantanal em Cuiabá ficou em silêncio — não por falta de torcedores, mas por desespero. Aos 14 minutos do segundo tempo, David Miguel recebeu passe de meia-largura, girou no meio da área e bateu com força, quase sem ângulo. A bola desviou no zagueiro, desviou no goleiro e entrou no fundo da rede. Golaço. O público de apenas 2.038 torcedores não gritou. Apenas respirou fundo. Porque aquele gol não era só um ponto para o Cuiabá Esporte Clube. Era o fim de um sonho para o Criciúma Esporte Clube.
O peso de um único gol
O Criciúma Esporte Clube chegava à última rodada da Série B de 2025 com 61 pontos, na terceira colocação, e com a esperança de retornar à elite do futebol brasileiro pela primeira vez desde 2019. A vitória era a única saída. Nada mais. Empate? Fim de história. Derrota? Ainda mais triste. E foi exatamente isso que aconteceu. O Cuiabá Esporte Clube, que já estava fora da briga por acesso, com apenas 51 pontos e em 11º lugar, jogou como se não tivesse nada a perder — e acabou sendo o carrasco.O gol de David Miguel, aos 14 minutos do segundo tempo, foi o único momento de precisão em uma partida cheia de erros. O Criciúma teve apenas uma finalização no gol em três tentativas, segundo dados do LANCE!. O Cuiabá, por sua vez, bateu cinco vezes — nenhuma no alvo. Mas uma só precisou. O gol foi o primeiro do jogador na temporada, e o mais importante de todos.
Quase, mas não foi
O Criciúma teve chances. Muitas. Aos 14 minutos do primeiro tempo, Léo Naldi cortou pela esquerda, cruzou com canhota e a bola bateu na trave esquerda do goleiro Luan Polli. O estádio estremeceu. Os torcedores carvoeiros, que tinham viajado em massa até Cuiabá, caíram de joelhos. Aos 43 minutos, Denilson cabeceou de cabeça, de frente para o gol, e a bola passou por cima do travessão. O silêncio voltou. Ainda mais pesado.“Foi o nosso melhor jogo da temporada”, disse o técnico Nino Paraíba após o apito final. “Tivemos posse, criamos, tivemos a chance. Mas o futebol às vezes pune quem precisa mais.”
Para o Criciúma, fundado em 1947, o acesso à Série A era mais que um sonho — era uma obrigação histórica. A torcida carvoeira, uma das mais apaixonadas do interior do Brasil, vinha de dois triunfos consecutivos antes deste jogo. Mas o futebol não é só de emoção. É de detalhes. E o detalhe foi o pé de David Miguel.
Um Cuiabá que não sonhava, mas fez história
O Cuiabá Esporte Clube não tinha mais nada a perder. Já estava classificado em 11º lugar, sem chances de subir. Mas jogou com orgulho. Com intensidade. Com o peso de quem sabe que, às vezes, o herói não é quem sobe — mas quem impede que outro suba.A substituição de Max por Gabriel Mineiro aos 29 minutos do segundo tempo foi crucial. O jovem lateral, de apenas 21 anos, trouxe velocidade e pressão no flanco direito, o que acabou desestabilizando a defesa do Criciúma. Foi ele quem deu o passe decisivo para o gol de David Miguel.
“Ninguém esperava isso de nós”, disse o técnico do Cuiabá, Ricardo Silva. “Mas quando você joga com coração, o resultado aparece. Não importa se é por acesso ou por evitar o acesso de alguém.”
O preço da frustração
O resultado gerou apenas R$ 12.890,00 em renda, segundo o Portal Educadora — um valor irrisório para um jogo que decidiu o futuro de um clube. A Arena Pantanal, com capacidade para mais de 40 mil pessoas, estava menos da metade cheia. Muitos torcedores do Criciúma não conseguiram ingressos. Outros, desanimados, ficaram em casa.Na cidade de Criciúma, Santa Catarina, a noite foi de silêncio. Nas ruas, bandeiras foram tiradas das janelas. Em frente ao estádio Hercílio Luz, grupos de torcedores se reuniram em silêncio, com copos de café na mão. Alguns choravam. Outros, apenas olhavam para o chão.
“Tivemos uma geração boa. Mas não foi o suficiente”, disse Carlos Alberto, torcedor há 42 anos. “Foi como perder a chance de ir à lua. A gente viu a porta abrindo… e ela fechou na nossa cara.”
O que vem a seguir?
O Criciúma voltará à Série B em 2026, com o mesmo elenco, mas com um novo desafio: reconstruir a confiança. O técnico Nino Paraíba pode ser demitido. Alguns jogadores, como Léo Naldi e Denilson, já são alvos de clubes da Série A. O clube precisa de renovação — e de tempo.Já o Cuiabá, que encerrou a temporada em 11º lugar, terá que repensar seu projeto. O time tem um bom elenco jovem, mas falta consistência. O gol de David Miguel pode ser o primeiro passo para uma nova era — não de acesso, mas de identidade.
Um clube, duas histórias
O futebol brasileiro é feito de histórias assim. De sonhos que se quebram em um único chute. De times que se erguem com a dor do outro. O Criciúma não foi derrotado por um time superior. Foi derrotado por um momento. Por um instante. Por um jogador que, naquele dia, decidiu escrever sua própria lenda — mesmo que não fosse a dele.Frequently Asked Questions
Por que o Criciúma não conseguiu o acesso à Série A mesmo tendo mais pontos?
O Criciúma tinha 61 pontos, mas precisava vencer o Cuiabá para garantir o acesso. Na Série B, o acesso depende da posição final, mas também da diferença de pontos entre os três primeiros. O 2º colocado, o Paysandu, tinha 63 pontos — então mesmo com vitória, o Criciúma só chegaria a 64. Mas o 3º lugar não garante acesso automaticamente: só os dois primeiros sobem. Por isso, o Criciúma precisava ser o 1º ou 2º — e só a vitória o colocaria em 2º. A derrota o manteve em 3º, fora da elite.
Quantas vezes o Criciúma já subiu para a Série A?
O Criciúma já esteve na Série A em 1991, 1992, 1994, 1996, 1997, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2019. A última vez foi em 2019, quando foi rebaixado. Em 2025, foi a sua 16ª tentativa de retornar à elite — e a 7ª vez que chegou perto, mas não conseguiu. A frustração é profunda, mas não é nova.
Qual foi o impacto financeiro da derrota para o Criciúma?
A subida à Série A traria ao Criciúma cerca de R$ 40 milhões em receitas da CBF, além de patrocínios e bilheteria. Com a permanência na Série B, o clube perderá pelo menos R$ 25 milhões em receitas diretas. Isso afeta diretamente o pagamento de salários, a contratação de jogadores e a manutenção do estádio Hercílio Luz, que precisa de reformas urgentes.
David Miguel é um jogador conhecido? Ele vai ficar no Cuiabá?
David Miguel, de 22 anos, era um jovem promessa da base do Cuiabá, com apenas 3 gols na temporada antes deste jogo. Após o golaço, clubes como Corinthians, Palmeiras e Santos já demonstraram interesse. Mas o Cuiabá, que tem um acordo de venda com o clube português Estoril, pode negociar sua transferência em janeiro. O jogador afirmou que “ainda não pensou em ir embora”, mas o mercado já o viu como um dos grandes destaques da Série B.